A IMPORTÂNCIA DA CONCORRÊNCIA

Autor: Carlos Alberto Miranda*

Quando analiso uma empresa para investir ou um plano de negócios, uma das coisas que mais me incomoda é empreendedor que diz não ter concorrentes. Isso não significa que acredito ser impossível não haver concorrência em determinadas atividades, mas que essa possibilidade é extremamente remota.

Essa resposta me preocupa, pois pode indicar que o empreendedor, ou seus colaboradores, não estão atentos ao mercado e às suas lições e ameaças. Concorrentes não são apenas aqueles que estão oferecendo concorrência em determinado momento, mas também aqueles que têm o potencial de fazê-lo ou até que já o fizeram no passado (mesmo que indiretamente) e que poderão, via reposicionamento estratégico, voltar a oferecer risco para seu negócio.

Da mesma forma, temos que ficar atentos àqueles players de mercado que não são concorrentes diretos, mas que podem ver a sua atividade como estratégica ou complementar ao seu negócio e passar de a exercer a mesma de forma extensiva com velocidade muito maior que a sua.

Por exemplo, supermercados que resolvem investir em lojas menores, oferecendo lanches rápidos, competindo diretamente com as tradicionais padarias de bairro ou empresas de soluções de comércio eletrônico que, da noite para o dia, podem ver seus negócios ameaçados por grandes varejistas. Sendo assim, mesmo que um empreendedor não identifique um concorrente direto em um primeiro momento, recomendo que continue buscando tais ameaças, principalmente as não tão óbvias.

Buscar os casos de fracassos ou de recuperação vale muito mais do que qualquer treinamento ou especialização em qualquer universidade de primeira linha. Ler jornais especializados, seguir notícias de veículos no Twitter, entre outros, é uma excelente fonte de notícias. Ao se deparar com casos interessantes, crie uma disciplina para você e seus eventuais colaboradores debaterem esses casos de erros ou fracassos e como vocês enfrentariam situações semelhantes em seu negócio.

Não se trata de ser negativo ou profeta do apocalipse e muito menos de não ter uma visão positiva e otimista em relação ao seu negócio, mas sim de ter planos previamente estruturados para qualquer “acidente de percurso”. Lembre-se de que, embora ninguém deseje que um edifício pegue fogo, periodicamente é importante efetuar exercícios de simulação de evacuação e procedimentos para esses casos, pois em eventuais acidentes as pessoas estarão muito mais preparadas para enfrentá-los.

Muitos empreendedores que conheço temem em cogitar potenciais problemas, pois o seu DNA é de pensar positivamente – alguns julgam que isso pode “atrair” coisas ruins. Não caia nessa, seja positivo mas nunca deixe de ver, pelo menos, o que os outros fizeram de errado e lembre-se da diferença entre os tolos, os inteligentes e os sábios: os primeiros erram e nunca aprendem, os inteligentes, quando erram, aprendem com seus próprios erros, já os sábios, aprendem com os erros dos outros.

Carlos Alberto Miranda é sócio-fundador da BR Opportunities, gestora de private equity com foco em empresas de rápido e alto crescimento.